«Prometo, pela minha palavra real, que farei construir um convento
de franciscanos na vila de Mafra se a rainha me der um filho no prazo de um ano
a contar deste dia em que estamos…». Assim o diz D. João V no primeiro capítulo
de Memorial do Convento, uma obra que, quando
publicada nos idos de 1982, mereceu o apreço não só do público como também da
crítica, e que, hoje, integra o plano curricular da disciplina de Português do 12º ano. O título do romance remete-nos desde logo para aquela que é
a primeira linha de ação da narrativa – a
construção do Convento de Mafra –, a qual motivou a realização de
uma visita de estudo, no passado dia 19 de março, permitindo uma abordagem in loco da
obra.
Foram selecionadas duas
das atividades contempladas pelo serviço educativo do Palácio Nacional de Mafra:
por um lado, o espetáculo teatral Memorial
do Convento, realizado pela ÉTER Produções, que leva a palco a ação (e a
emoção) do romance homónimo; por outro, uma visita guiada ao Palácio, durante a
qual se contextualizou historicamente a época de
construção do Convento.
Ditado
pela caprichosa ambição de D. João V, o Real Convento de Mafra é o mais
importante monumento do barroco português. A direção da obra foi atribuída
ao alemão João Frederico Ludovice, que, apesar de ourives, tivera formação de
arquitetura em Itália. Em termos
arquitetónicos, o edifício desenvolve-se simetricamente a partir de um eixo
central, a basílica, ponto principal de uma longa fachada ladeada por dois
torreões (o do Norte destinado a Palácio do Rei; o
do Sul, à Rainha), ligados por uma galeria de 232 metros (o maior corredor
palaciano da Europa!). Os bolsos largos
do rei permitiram que o projeto original fosse
alvo de sucessivos alargamentos e de treze passou para trezentos
o número de frades albergados.
As obras iniciaram-se a 1717, ano do «lançamento» da primeira pedra, e teriam forçosamente de terminar a 22 de outubro de 1730, o que não é, de todo, aleatório: por exigência religiosa teria a sagração da basílica de ocorrer a um domingo; por exigência real, no dia do quadragésimo-primeiro aniversário do rei.
As obras iniciaram-se a 1717, ano do «lançamento» da primeira pedra, e teriam forçosamente de terminar a 22 de outubro de 1730, o que não é, de todo, aleatório: por exigência religiosa teria a sagração da basílica de ocorrer a um domingo; por exigência real, no dia do quadragésimo-primeiro aniversário do rei.
De entre as dificuldades na
construção do convento, situado no Alto da Vela, destaca-se o transporte da
chamada «mãe da pedra» de Pero Pinheiro a Mafra. No carrego desta gigantesca pedra
de mármore, foram necessárias duzentas juntas de bois e seiscentos homens, saga
epopeica que Saramago descreve ao longo de largas páginas. É neste ponto,
aliás, que a edificação do convento assume um cariz simbólico: é o povo,
enquanto personagem coletiva, que surge elevado à esfera da valorização mítica.
No entanto, Memorial do Convento
transcende largamente o plano da realidade histórica, havendo todo um
caleidoscópio de enredos diversos que sublimemente se entrecruzam, como bem
evidencia a encenação teatral. É o caso da história de amor de Baltasar Sete-Sóis,
soldado maneta, e Blimunda Sete-Luas, que, em jejum, consegue ver «por dentro»
das pessoas. Em paralelo, há ainda o alegórico projeto da construção da
passarola, engenho que voará movido literalmente pela força das vontades dos
homens, e que radica na crença subversiva do Padre Bartolomeu Lourenço de
Gusmão, a quem chamam «o Voador». De resto, é em torno desta espécie de
Santíssima Trindade – Baltasar, Blimunda e o padre Bartolomeu – que a
ação do romance orbita.
O desafio que (nos) é proposto
nestas páginas é o da construção – do convento, da passarola, do sonho e da
vontade. Ao leitor não restam dúvidas: «o homem, primeiro tropeça, depois anda, depois corre, um dia voará».
Diana
Venda
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