terça-feira, 30 de maio de 2017

ENTREVISTA - 25 de abril


A propósito do 25 de abril, alguns alunos do 5º B decidiram entrevistar alguém que viveu essa data e que a recordará para sempre. A assistente operacional da Escola EB2 Dr. Manuel de Oliveira Perpétua, D. Alzira,  de sessenta e seis anos de idade, aceitou, gentilmente, ser   entrevistada, deixando assim o seu valioso testemunho. 

 - Que idade tinha quando aconteceu o 25 de abril?
D.Alzira– Agora não sei… só fazendo as contas…eu tenho 66… Tinha 23 anos, era uma jovem.
- Onde estava quando se deu a revolução?
D. Alzira – Estava em casa, aqui na Corredoura. Morava na Corredoura, nessa altura.
- Como é que soube o que estava a acontecer?
D. Alzira – Pela rádio.
- Como era a escola antes do 25 de abril?
D.  Alzira -Era mesmo só para os ricos.
- Lembra-se de alguma canção do 25 de abril?
D. Alzira– lembro-me da canção do Paulo de Carvalho “Depois do Adeus”.
- Qual era a sua música preferida no 25 de abril?
     D. Alzira - Bem sei eu! Já lá vão muitas canções…
     - O que  achou do 25 abril?
-D. Alzira – Achei bom. Então, nós não podíamos abrir a boca por causa da PIDE. Agora  a gente diz o que quer, embora sejamos castigadas à mesma. Ah! Ah!Ah!
- Havia pessoas de Porto de Mós na  PIDE?
D. Alzira – Havia, havia alguns homens.
- Eles foram presos depois do 25 de abril?
D. Alzira – Não. Ninguém foi preso.
- Você gostou de viver o 25 de abril?
D.Alzira– Gostei pois, gostei muito de viver o 25 de abril. Foi só pena o meu pai não estar vivo. O meu pai era contra Salazar. Eu gostava que ele tivesse vivido a revolução, mas ele morreu em janeiro e o 25 de abril deu-se logo no mesmo ano.
- O que era proibido naquele tempo?
D. Alzira – Ai… tanta coisa! Não podíamos dizer o que estou a dizer agora, por exemplo, não se podia andar com decotes que deixassem ver os peitos, não se podia ir à missa sem um veuzinho na cabeça,… tanta coisa, tanta… na escola tínhamos que rezar, na parede havia uma fotografia do Salazar e outra do papa.
- Antes do 25 de abril saía muitas vezes de casa?
D. Alzira – Não, filho, então a gente não tinha transporte nem nada, não íamos a lado nenhum… só se fosse a pé. Éramos uns pobres coitados. Não havia nada, nem televisão, nem  telefone fixo, nem nada, só os ricos é que tinham essas coisas. Naquele tempo só os ricos viviam bem.
- Passou fome, D. Alzira?
D. Alzira – Muita, porque eu não tinha mãe, e o meu pai ficou viúvo com cinco filhos. Passei muita miséria. Andei a pedir, e não tenho vergonha de o dizer. Se fosse hoje, faria a mesma coisa, ia pedir novamente, roubar é que não. Eu andava na escola de Porto de Mós e, até chegar a casa, pedia às pessoas mais ricas, e elas davam-me comida. O meu pai chegou a chorar quando me via chegar com uma saca do pão com alimentos. Ele era trabalhador rural e nem sempre havia o que fazer no campo. De inverno chovia muito, semanas inteiras, e não se ganhava um tostão. O meu pai, coitado, tinha cinco filhos para criar. E nós sobrevivemos todos com muita dificuldade, mas nunca enxovalhámos a cara do meu pai, nunca, nunca, nunca. O meu pai deu-nos educação, nunca roubámos nada a ninguém, só pedíamos, mas isso não é desprezo nenhum. Por onde andássemos, andávamos sempre de “cara lavada”.
- O que notou de diferente depois do 25 de abril?
D. Alzira – Ah! Tudo. Tudo diferente.
- Foi assim de um dia para o outro?
D. Alzira – Sim, foi tudo diferente, foi muito bom!
- Obrigado pela sua disponibilidade e, queira aceitar estas flores colhidas no jardim do Nuno. Não são cravos, mas vêm carregadas de carinho. Muito obrigada.

Trabalho realizado pelos alunos do 5º B: Nuno Ferreira, Soraia Vieira e Tomás Martins

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