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propósito do 25 de abril, alguns
alunos do 5º B decidiram entrevistar alguém que viveu essa data e que a
recordará para sempre. A assistente operacional da Escola EB2 Dr. Manuel de
Oliveira Perpétua, D. Alzira, de
sessenta e seis anos de idade, aceitou, gentilmente, ser entrevistada, deixando assim o seu valioso
testemunho.
- Que idade tinha quando aconteceu o 25 de abril?
D.Alzira–
Agora não sei… só fazendo as contas…eu tenho 66… Tinha 23 anos, era uma jovem.
-
Onde estava quando se deu a revolução?
D. Alzira
– Estava em casa, aqui na Corredoura. Morava na Corredoura, nessa altura.
-
Como é que soube o que estava a acontecer?
D. Alzira
– Pela rádio.
-
Como era a escola antes do 25 de abril?
D. Alzira -Era mesmo só para os ricos.
-
Lembra-se de alguma canção do 25 de abril?
D.
Alzira– lembro-me da canção do Paulo de Carvalho “Depois do Adeus”.
-
Qual era a sua música preferida no 25 de abril?
D.
Alzira - Bem sei eu! Já lá vão muitas canções…
- O
que achou do 25 abril?
-D.
Alzira – Achei bom. Então, nós não podíamos abrir a boca por causa da PIDE.
Agora a gente diz o que quer, embora
sejamos castigadas à mesma. Ah! Ah!Ah!
- Havia
pessoas de Porto de Mós na PIDE?
D.
Alzira – Havia, havia alguns homens.
- Eles
foram presos depois do 25 de abril?
D.
Alzira – Não. Ninguém foi preso.
-
Você gostou de viver o 25 de abril?
D.Alzira–
Gostei pois, gostei muito de viver o 25 de abril. Foi só pena o meu pai não
estar vivo. O meu pai era contra Salazar. Eu gostava que ele tivesse vivido a
revolução, mas ele morreu em janeiro e o 25 de abril deu-se logo no mesmo ano.
- O
que era proibido naquele tempo?
D.
Alzira – Ai… tanta coisa! Não podíamos dizer o que estou a dizer agora, por
exemplo, não se podia andar com decotes que deixassem ver os peitos, não se
podia ir à missa sem um veuzinho na cabeça,… tanta coisa, tanta… na escola
tínhamos que rezar, na parede havia uma fotografia do Salazar e outra do papa.
-
Antes do 25 de abril saía muitas vezes de casa?
D.
Alzira – Não, filho, então a gente não tinha transporte nem nada, não íamos a
lado nenhum… só se fosse a pé. Éramos uns pobres coitados. Não havia nada, nem
televisão, nem telefone fixo, nem nada,
só os ricos é que tinham essas coisas. Naquele tempo só os ricos viviam bem.
- Passou
fome, D. Alzira?
D.
Alzira – Muita, porque eu não tinha mãe, e o meu pai ficou viúvo com cinco
filhos. Passei muita miséria. Andei a pedir, e não tenho vergonha de o dizer.
Se fosse hoje, faria a mesma coisa, ia pedir novamente, roubar é que não. Eu andava
na escola de Porto de Mós e, até chegar a casa, pedia às pessoas mais ricas, e
elas davam-me comida. O meu pai chegou a chorar quando me via chegar com uma
saca do pão com alimentos. Ele era trabalhador rural e nem sempre havia o que fazer
no campo. De inverno chovia muito, semanas inteiras, e não se ganhava um tostão.
O meu pai, coitado, tinha cinco filhos para criar. E nós sobrevivemos todos com
muita dificuldade, mas nunca enxovalhámos a cara do meu pai, nunca, nunca,
nunca. O meu pai deu-nos educação, nunca roubámos nada a ninguém, só pedíamos,
mas isso não é desprezo nenhum. Por onde andássemos, andávamos sempre de “cara
lavada”.
- O
que notou de diferente depois do 25 de abril?
D.
Alzira – Ah! Tudo. Tudo diferente.
- Foi
assim de um dia para o outro?
D.
Alzira – Sim, foi tudo diferente, foi muito bom!
- Obrigado
pela sua disponibilidade e, queira aceitar estas flores colhidas no jardim do
Nuno. Não são cravos, mas vêm carregadas de carinho. Muito obrigada.
Trabalho
realizado pelos alunos do 5º B: Nuno Ferreira, Soraia Vieira e Tomás Martins
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