Com a chegada do
verão, é inevitável associar a mente ao mar e aos demorados banhos de sol.
Contudo, Paulo Félix, concilia a tão agradável ideia de praia com o desporto,
mais especificamente, com o andebol. Mais que professor e treinador, tem o
cargo de selecionador nacional de andebol de praia, triunfando através da
conquista de vários títulos internacionais, tanto no género feminino como no
masculino.
No passado foi um
atleta federado nesta modalidade, chegando inclusive a participar nos Jogos dos
500 Anos dos Descobrimentos 2000 em Recife (Brasil) de andebol de praia. Com
intuito de conhecer um pouco mais da sua história, decidimos ouvir o seu
testemunho.
Quais as implicações de ser selecionador Nacional na vida
familiar?
As implicações são
muitas, mas tudo se faz com organização. Tenho dois filhos, com 11 e 9 anos, e
o facto de não ter família na cidade onde vivo e de a mãe trabalhar como
assistente de bordo dificulta ainda mais a situação. No entanto, em períodos de
ausência mais prolongada, como estágios e competições, os meus pais vêm para
Leiria dar uma ajuda. As saudades são muitas, mas já estamos habituados.
O andebol de praia vive dos jogadores do andebol indoor?
Qual a relação?
O Andebol de Praia
vive e potencia os jogadores de indoor como o Andebol de indoor potencia o
atleta de praia. Considero que, mesmo havendo grandes diferenças, as duas
vertentes se complementam e em conjunto desenvolvem grandes qualidades e
capacidades fundamentais para um atleta de Andebol.
Não acho que haja
regra, ou seja, existem excelentes atletas de indoor que não o são na praia e
vice-versa. Um atleta de seleção de praia tem de ser um atleta que tem paixão
por esta vertente e dá prioridade ao Andebol de Praia em relação ao indoor.
Como avalia a evolução do andebol de praia?
A evolução tem sido
fantástica. Nos escalões jovens temos das seleções mais fortes do mundo em
ambos os géneros. Nos seniores conseguimos o apuramento para o Mundial e estamos
a crescer de uma forma progressiva e sustentada. No que diz respeito às
competições nacionais o nível tem subido muito e já conseguimos alguns títulos
internacionais.
Quais os resultados que destaca como selecionador
nacional?
Felizmente são
vários. Vice-campeões europeus em 2016 (Nazaré) e 2017 (Zagreb) com os SUB-16
masculinos e SUB-17 femininos respetivamente. Conseguimos a medalha de prata
nos jogos de praia do mediterrâneo 2019 (Patras) em ambos os géneros.
O resultado mais
importante foi termos sido vice-campeões olímpicos da juventude em 2018 (Buenos
Aires). Recordo que fomos a primeira equipa coletiva a receber uma medalha
olímpica para Portugal e até tivemos o prazer de sermos recebidos pelo
presidente da república, Marcelo Rebelo de Sousa.
Como selecionador nacional quais os objetivos a curto
prazo (presente e próximo ano) e a longo prazo (daqui a 4 ou 6 anos)?
A curto prazo passa
por realizar um Mundial positivo e conseguir discutir todos os jogos. A longo
prazo espero que o Andebol de Praia se torne modalidade olímpica (vamos ser
modalidade de demonstração em Paris 2024) e que possamos estar presentes nos
Jogos Olímpicos de Londres 2028.
Dada a importância e mais-valia de
ter um docente com esse cargo numa escola, qual o apoio/relação/compreensão que
a escola tem para consigo?
Muitas vezes as coisas não são
fáceis. Entendo perfeitamente que a minha situação não é a melhor para uma
escola, devido às constantes ausências nos estágios e competições, mas
infelizmente o Andebol não é o Futebol, modalidade que também adoro e que toda
a minha família é muito ligada. A Federação Portuguesa de Futebol tem outro
tipo de condições que oferece aos seus treinadores o que lhes permite fazer só
uma atividade.
Eu sou professor, selecionador e
treinador. Faço o que faço com todo o gosto e com o maior empenho possível para
conseguir títulos para o nosso país e muitas vezes não sinto esse
reconhecimento.
No Agrupamento de Porto de Mós tenho
sentido compreensão total da parte dos colegas e direção e já conseguimos
realizar algumas atividades muito interessantes. Sendo o primeiro ano no
agrupamento, encontrei um departamento de Educação Física composto por
excelentes pessoas e excelentes profissionais que estão empenhados em tirar o
melhor partido de cada um dos nossos alunos.
Como valorizar o Professor / treinador no
percurso de formação dos nossos alunos, nomeadamente, no Curso Profissional
Técnico de Desporto?
Acho que para o
Curso Técnico de Desporto tem muito a ganhar com a situação, até porque a
maioria dos estágios que fazemos das várias seleções são na Nazaré, o que
permite aos alunos acompanharem os vários momentos da preparação, desde o
controlo físico, preparação física, prevenção de lesões,
alimentação/suplementação, estratégias de recuperação, preparação
técnico-tática, trabalho de estatística e análise de vídeo. No próximo ano de
2023, em maio, precisamente na Nazaré, vamos ter um grande evento internacional
de Andebol de Praia de Seniores, o Campeonato Europeu. Será uma grande
oportunidade para estes alunos de Desporto colaborarem com a organização nas
várias tarefas inerentes a um Europeu.
Exemplos dessa ligação escolas / percurso do
treinador?
No corrente ano
letivo esta ligação já se verificou com as turmas do 10.º e 11.º Curso
Profissional Técnico de Desporto. Os alunos tiveram a possibilidade de assistir
a dois estágios de masculinos e femininos, onde observaram a forma como
avaliamos fisicamente os atletas. Tiveram também a possibilidade de assistir e
conversar com a fisioterapeuta e o fisiologista da Federação de Andebol de
Portugal para perceberem como é realizado toda a preparação para o Mundial.
Sónia Paulo, 10ºC, nº 21
Afonso Vieira, 11ºA, nº 02
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