segunda-feira, 8 de maio de 2023

Deambulando - 12.ºA 22

Sob o escuro firmamento



Sob o escuro firmamento

Que esconde o brilho do sol

Repousa, como um caracol,

O verde manto. Pobre coitado,

Cada vez mais esburacado!

 

Ao pé da igreja, diário ajuntamento,

Vejo apearem-se as inocentes crianças.

Olho para o lado, não há mudanças!

Entre curvas sinuosas, sob o peito,

Estalam cervejas no café. Lugar perfeito!

 

Deixo aquele inflexível monumento

Que me agonia com a mesma cor,

Pois recordo agora com fervor

O bulir de outrora nas eiras,

O som do malho entre as figueiras!

 

Porém, nos meus pés sinto o afundamento,

Porque estes duros e brutos montes

Semelham-se à água nas fontes

Que evapora. E livres do seu peso

Buscam no céu um recomeço.

 

Abre-se a celestial serventia, de momento,

Mas do cerne destes altos, como serpentes,

Rompem grandes e fortes correntes

Que agarram este iludido pedaço de terra!

E, cá em baixo, o sacrificado cordeiro berra!

 

Atenua-se o som daquele movimento,

E dou por mim cercado pelos muros

Que se cobrem de espinheiros pontiagudos.

Lá no alto, a amarga lua

Débil e frágil, chora, mas não recua!

 

Arrepia-me um áspero sopro de tormento,

Pois, muito antes, searas douradas

Rasgavam estes muros, agora focinhadas

Cegas os derrubam! Sonho o cheiro

Do azeite a pingar da prensa, o lagareiro,

 

Homem valente e rabugento,

Faz o seu serão acarretando capachos!

Arrastam-se incansáveis os teimosos machos,

Procurando com o pescoço a semente

Onde pesa a canga bem assente.

 

Agora, este saudoso convento

Jaz esquecido e bem enterrado,

Donde brota um enorme silvado.

Alheio à comum visão, exceto do falcão,

Que observa o alastrar da deceção!

Rodrigo Morgado, N.º22,12.ºA 

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