quarta-feira, 10 de maio de 2023

Deambulando - 12.ºA 24

Gira diária



Ainda o orvalho paira no ar

Já ao fundo o galo a cantar

É hora de começar o fastidioso e

Retumbante labutar

 

Avisto o estrépito do sensato motor

A carregar o trabalhador, velho, e derreado

Que o dia já bem cedo começou

Longe disso a quimera entretém os moços

 

De sacos nas mãos, alegres

Vão indo pelo húmido pavimento

Desejando o encontro com as comadres

Que de outrem a vida é formidável

 

Hora de ponta. Barulho!

Carros à jusante, em contramão parados

Aí se a polícia passasse!

Nada faria.

 

Atrasados os gaiatos, apressam-se

Os avós devotos e sensatos, acompanham

Lembro-me da pele névoa, rugosa

Daquele que me agarrava e guiava

 

O salpicar das poças que passava

Simplesmente feliz. Saudades!

Afortunado passado que me consta

Que o presente enfadado se apresenta.

 

Sinos. Missa, se aproxima

Fiéis viúvas, cabisbaixas seguem

Esperança no perdão? Iludem-se

No desvanecer de suas profanas heresias

 

Sós. Arrastando-se pelas ruas

Os decrépitos abandonados

Indiferentes à multidão

Desamparados, morrem!

 

Adormecida permanece,

Aparenta deserto seco e sereno

Oh tristeza que me preenche!

Oh futuro pesaroso se avizinha!

 

Passos! Fumo! Voltou

A correria que se anseia

Preenche os corações daqueles que

Amor à terra detém, esperançosos!

Sara Dias, N.º 24, 12.ºA

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