Sob o escuro firmamento
Sob o escuro firmamento
Que esconde o brilho do sol
Repousa, como um caracol,
O verde manto. Pobre coitado,
Cada vez mais esburacado!
Ao pé da igreja, diário ajuntamento,
Vejo apearem-se as inocentes crianças.
Olho para o lado, não há mudanças!
Entre curvas sinuosas, sob o peito,
Estalam cervejas no café. Lugar perfeito!
Deixo aquele inflexível monumento
Que me agonia com a mesma cor,
Pois recordo agora com fervor
O bulir de outrora nas eiras,
O som do malho entre as figueiras!
Porém, nos meus pés sinto o afundamento,
Porque estes duros e brutos montes
Semelham-se à água nas fontes
Que evapora. E livres do seu peso
Buscam no céu um recomeço.
Abre-se a celestial serventia, de momento,
Mas do cerne destes altos, como serpentes,
Rompem grandes e fortes correntes
Que agarram este iludido pedaço de terra!
E, cá em baixo, o sacrificado cordeiro berra!
Atenua-se o som daquele movimento,
E dou por mim cercado pelos muros
Que se cobrem de espinheiros pontiagudos.
Lá no alto, a amarga lua
Débil e frágil, chora, mas não recua!
Arrepia-me um áspero sopro de tormento,
Pois, muito antes, searas douradas
Rasgavam estes muros, agora focinhadas
Cegas os derrubam! Sonho o cheiro
Do azeite a pingar da prensa, o lagareiro,
Homem valente e rabugento,
Faz o seu serão acarretando capachos!
Arrastam-se incansáveis os teimosos machos,
Procurando com o pescoço a semente
Onde pesa a canga bem assente.
Agora, este saudoso convento
Jaz esquecido e bem enterrado,
Donde brota um enorme silvado.
Alheio à comum visão, exceto do falcão,
Que observa o alastrar da deceção!
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