Gira diária
Ainda o orvalho paira no ar
Já ao fundo o galo a cantar
É hora de começar o fastidioso e
Retumbante labutar
Avisto o estrépito do sensato motor
A carregar o trabalhador, velho, e derreado
Que o dia já bem cedo começou
Longe disso a quimera entretém os moços
De sacos nas mãos, alegres
Vão indo pelo húmido pavimento
Desejando o encontro com as comadres
Que de outrem a vida é formidável
Hora de ponta. Barulho!
Carros à jusante, em contramão parados
Aí se a polícia passasse!
Nada faria.
Atrasados os gaiatos, apressam-se
Os avós devotos e sensatos, acompanham
Lembro-me da pele névoa, rugosa
Daquele que me agarrava e guiava
O salpicar das poças que passava
Simplesmente feliz. Saudades!
Afortunado passado que me consta
Que o presente enfadado se apresenta.
Sinos. Missa, se aproxima
Fiéis viúvas, cabisbaixas seguem
Esperança no perdão? Iludem-se
No desvanecer de suas profanas heresias
Sós. Arrastando-se pelas ruas
Os decrépitos abandonados
Indiferentes à multidão
Desamparados, morrem!
Adormecida permanece,
Aparenta deserto seco e sereno
Oh tristeza que me preenche!
Oh futuro pesaroso se avizinha!
Passos! Fumo! Voltou
A correria que se anseia
Preenche os corações daqueles que
Amor à terra detém, esperançosos!
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