sexta-feira, 21 de abril de 2023

Deambulando - 12.ºA 12

Deambular pela minha terra


De manhã, pelas ruelas do Castelo,

Lá vou eu a passear,

Não fosse lá tardar,

De camisolão e chinelo.

 

Vê-se uma paisagem encantadora,

E ouvem-se os passarinhos a cantar,

Lembra o acordar,

Desta terra inspiradora.

 

O padeiro e a peixeira,

Todos acordam com a sua buzina,

Lá vão todos para a esquina,

Alguns vindo da bebedeira.

 

Os homens vão trabalhar,

E as mulheres também não se deixam ficar,

As crianças começam de cedo a gritar,

Parecendo papagaios a palrar.

 

Ainda a procissão vai no adro,

Ainda nem o meio-dia tocou,

Já o Manuel acabou,

De pintar um quadro.

 

E no meio de tanto barulho,

Das obras na estrada velha,

Vê-se montes de telha,

No meio do entulho.

 

Já cheira a refogado de cebola, alho e tomate,

O meio-dia já deu sinal,

E comida da avó, especial,

Sabe melhor do que chocolate.

 

A confusão volta,

O barulho dos carros e a agitação,

Lá vou eu de cesta na mão,

Por esta terra envolta.

 

De barriguinha cheia,

Desço as escadas da velha igreja,

Um calceteiro bacoreja,

Enquanto entranha a areia.

 

Uns vão para a escola,

Outros para o trabalho,

Alguns com um agasalho,

Outros com uma camisola.

 

E lá passo a minha tarde,

A cirandar por meio de mesas e cadeiras,

E a escapar às beiras,

Que não há albarda que resguarde.

 

O cheiro a livros predomina,

Mas o céu começa a perder a cor,

Começa a sentir-se um sentimento de dor,

Aquele que nos arruína.

 

Lá vou eu quase sem luz,

Até casa,

A pé e na desgraça,

Quase como se carregasse uma cruz.

 

As ruas já vazias,

Cheira a peixe grelhado,

O chão vai ficando molhado,

Percebendo-se que já não é de dia.

 

O Sr. Manuel ainda tem a oficina aberta,

Aquela triste garagem,

Onde é preciso coragem,

Pois está sempre deserta.

 

O jantar já está na mesa,

E o silêncio já se faz sentir,

É hora de refletir,

Sobre toda aquela tristeza.

 

Nesta minha rica terra,

Quando bate a solidão,

Toca o sino, dlim, dlão,

E a Maria Adelaide berra.

 

E assim se vai notando a escuridão,

Cada vez mais intensa,

E o sentimento adensa,

Deixando frio o coração.

 

Só se ouvem alguns rouxinóis,

E os gatos a miar,

Meto-me então a pensar,

Já dentro dos lençóis.

 

Nesta terra de reis e rainhas,

Já não se sente a madrugada,

Pois até na noite cerrada,

Já todos viram as estrelinhas.

 

Durante a madrugada o silêncio predomina,

Lá estou eu a ver o Castelo,

E a comer um caramelo,

Algo que me fascina.

 

Dizem ser o Castelo mais bonito,

Ai! Que eu me encanto!

Pois é tanto o espanto,

Que quase suprimo um grito.

 

E sobre a vida neste belo cantinho,

Não existe muito mais a dizer,

Pois é um prazer,

Viver num canto tão sossegadinho.

 Inês Marques, N.º 12, 12.ºA

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