domingo, 30 de abril de 2023

Deambulando - 12.ºB 17

Deambulando pelo Alqueidão da Serra
 


Saio do autocarro quando começa a anoitecer,

E vejo os senhores do costume no banco a fumar os seus cigarros,

Os trabalhadores que das pedreiras saem nos seus carros,

Seguindo para junto de suas famílias ou para o café beber.

 

As máquinas aproveitam uma última hora de luz,

O cheiro a pó é avassalador e o som dos blocos a quebrar assemelha-se a tiros,

Cansados, os homens soltam pesados suspiros e

Com as mãos rasgadas e braços doridos, pedem forças e fazem o sinal da cruz.

 

Pelo caminho vejo o café que fechou e a padaria que faliu,

A papelaria que outrora vendia de tudo, reduzida à lotaria e às raspadinhas,

Mostram o envelhecimento e abandono destas terras minhas,

Que ficam no coração de todo aquele que já as viu.

 

Encontro a minha escola primária,

E nela vejo-me com as inocentes crianças,

À memória chegam-me as velhas brincadeiras e danças,

Enquanto uma lágrima nasce quando reconheço a mesma pobre funcionária.

 

O céu cinzento começa a pingar,

As mulheres rapidamente apanham as pesadas roupas e fecham as janelas desanimadas,

Sozinhas nas suas casas, estão exaustas e pelo sol marcadas,

Deitam-se na cama, e com o retorno dos filhos emigrados, começam a sonhar.

Pedro Vieira, N.º 17, 12B

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