quinta-feira, 13 de abril de 2023

Deambulando - 12.ºA 8

Deambulando pelas Pedreiras


O dia está leve, o céu encontra-se

Num azul ameno, que antes era encoberto

Por nuvens densas e tristes. Decerto

O ambiente revigora e me libera de stresse!

 

Os jovens, de mala às costas, vão para casa.

Uns têm quem os leve e outros, sozinhos,

Erram pelas ruas, quietas e molhadas, até aos ninhos.

De longe ouve-se um carro que passa.

 

Avisto um globo terrestre, acima,

Esculpido numa fonte seca e esquecida.

A seu lado está um canhão em calcite,

E um banco desbotado, sob uma amoreira altíssima!

 

Ocorre-me, com tal visão, o épico

Povo português a navegar pelo mar

Para conquistar o mundo, superando o pânico

Do desconhecido! Que agora nem sonhar!

 

A igreja destaca-se no meio dos edifícios.

À frente, um sujeito de camisa de xadrez, calmamente

E despreocupado, se dirige a um café onde gente

Convive e come ao som dos talheres e da televisão. Um bulício!

 

Dois pedreiros, sujos e cansados, dirigem-se

Apressadamente para o banco, deixando a carrinha.

Passo numa rua deserta, e ouço o assobiar mansinho

E suave do vento. Como se este me sussurrasse.

 

Os ramos das árvores ondulam como o mar.

Um chiar solitário de um portão soa no caminho.

E um ladrar repentino e frenético desorienta de levezinho!

Vejo casa de faixa que se vai perlongar.

 

Vou mergulhando mais pelo campo verde

E pelas ruas pouco movimentadas. Ainda mais de tarde!

As habitações vão ficando escassas e o ar tende

A ficar mais leve e salubre! Ouço um rastejar cobarde.

 

Um longo olival prolonga-se no horizonte,

E pó dos carvalhos flutua pelo ambiente.

Distraio-me com as verdejantes canas-da-índia, no muro

E então uma grande nuvem esconde o sol, e fica um pouco escuro.

 

Vagueio entre vinhas rubras da estação,

As videiras escarlates e as suas formas distorcidas,

Tornam-se corpos sangrentos e contorcidos

No meio de um campo de batalha. Uma sufocação!

 

O sol tímido volta a clarear a rua. Irradia!

E os pássaros chilreiam alegres por entre os carvalhos.

Campos lavrados são tapados por arbustos.

Entro numa rua não alcatroada, pegajosa e escorregadia!

 

Os medronhos no chão lembram gotas de sangue cruas.

O cheiro da murta fica presente na atmosfera.

Evocando assim as festas da Maceira,

Onde esta planta se distribuía, pintando e aromatizando, nas ruas.

 

Faço uma subida acentuada na estrada irregular,

Olhando os eucaliptos que se parecem com grades

De uma jaula, pela forma como estão dispostas, de modo igual.

E então acima, avisto uma casa entre as verdes irregularidades.

 

Espantoso como o mundo na sua grandeza,

Por mais pura e plena dissimulação,

Se deixa mutilar e recriar, até mesmo a Natureza,

Pela pequenez, sofrida e arrogante, do Homem em geração.

Diana Bonifácio, N.º 8, 12.ºA

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