Deambular pela minha terra
De manhã, pelas ruelas do
Castelo,
Lá vou eu a passear,
Não fosse lá tardar,
De camisolão e chinelo.
Vê-se uma paisagem
encantadora,
E ouvem-se os passarinhos a
cantar,
Lembra o acordar,
Desta terra inspiradora.
O padeiro e a peixeira,
Todos acordam com a sua
buzina,
Lá vão todos para a esquina,
Alguns vindo da bebedeira.
Os homens vão trabalhar,
E as mulheres também não se
deixam ficar,
As crianças começam de cedo
a gritar,
Parecendo papagaios a
palrar.
Ainda a procissão vai no
adro,
Ainda nem o meio-dia tocou,
Já o Manuel acabou,
De pintar um quadro.
E no meio de tanto barulho,
Das obras na estrada velha,
Vê-se montes de telha,
No meio do entulho.
Já cheira a refogado de
cebola, alho e tomate,
O meio-dia já deu sinal,
E comida da avó, especial,
Sabe melhor do que
chocolate.
A confusão volta,
O barulho dos carros e a
agitação,
Lá vou eu de cesta na mão,
Por esta terra envolta.
De barriguinha cheia,
Desço as escadas da velha
igreja,
Um calceteiro bacoreja,
Enquanto entranha a areia.
Uns vão para a escola,
Outros para o trabalho,
Alguns com um agasalho,
Outros com uma camisola.
E lá passo a minha tarde,
A cirandar por meio de mesas
e cadeiras,
E a escapar às beiras,
Que não há albarda que
resguarde.
O cheiro a livros predomina,
Mas o céu começa a perder a
cor,
Começa a sentir-se um
sentimento de dor,
Aquele que nos arruína.
Lá vou eu quase sem luz,
Até casa,
A pé e na desgraça,
Quase como se carregasse uma
cruz.
As ruas já vazias,
Cheira a peixe grelhado,
O chão vai ficando molhado,
Percebendo-se que já não é
de dia.
O Sr. Manuel ainda tem a
oficina aberta,
Aquela triste garagem,
Onde é preciso coragem,
Pois está sempre deserta.
O jantar já está na mesa,
E o silêncio já se faz
sentir,
É hora de refletir,
Sobre toda aquela tristeza.
Nesta minha rica terra,
Quando bate a solidão,
Toca o sino, dlim, dlão,
E a Maria Adelaide berra.
E assim se vai notando a
escuridão,
Cada vez mais intensa,
E o sentimento adensa,
Deixando frio o coração.
Só se ouvem alguns
rouxinóis,
E os gatos a miar,
Meto-me então a pensar,
Já dentro dos lençóis.
Nesta terra de reis e
rainhas,
Já não se sente a madrugada,
Pois até na noite cerrada,
Já todos viram as
estrelinhas.
Durante a madrugada o
silêncio predomina,
Lá estou eu a ver o Castelo,
E a comer um caramelo,
Dizem ser o Castelo mais
bonito,
Ai! Que eu me encanto!
Pois é tanto o espanto,
Que quase suprimo um grito.
E sobre a vida neste belo
cantinho,
Não existe muito mais a
dizer,
Pois é um prazer,
Viver num canto tão
sossegadinho.
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