Deambulando
pelo Alqueidão da Serra
Saio do autocarro quando começa a anoitecer,
E vejo os senhores do costume no banco a fumar os seus cigarros,
Os trabalhadores que das pedreiras saem nos seus carros,
Seguindo para junto de suas famílias ou para o café beber.
As máquinas aproveitam uma última hora de luz,
O cheiro a pó é avassalador e o som dos blocos a quebrar assemelha-se a tiros,
Cansados, os homens soltam pesados suspiros e
Com as mãos rasgadas e braços doridos, pedem forças e fazem o sinal da cruz.
Pelo caminho vejo o café que fechou e a padaria que faliu,
A papelaria que outrora vendia de tudo, reduzida à lotaria e às raspadinhas,
Mostram o envelhecimento e abandono destas terras minhas,
Que ficam no coração de todo aquele que já as viu.
Encontro a minha escola primária,
E nela vejo-me com as inocentes crianças,
À memória chegam-me as velhas brincadeiras e danças,
Enquanto uma
lágrima nasce quando reconheço a mesma pobre funcionária.
O céu cinzento começa a pingar,
As mulheres rapidamente apanham as pesadas roupas e fecham as janelas desanimadas,
Sozinhas nas suas casas, estão exaustas e pelo sol marcadas,
Deitam-se na cama, e com o retorno dos filhos emigrados, começam a sonhar.
Pedro Vieira, N.º 17, 12.ºB
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