Cena
Y
(Ato II- Frei Luís de Sousa)
Frei
Jorge: - Conte-me, minha cunhada, como foi esse encontro com o
meu irmão…
(Na
esquadra escura e barulhenta de Almada, paira o cheiro a café e “aftershave”
barato. Uma pilha de papeis e casos por resolver, várias secretárias de metal e
computadores com o Windows de 2008. A máquina de venda automática avariada, com
3 embalagens da Compal fora de validade. Uma porta que liga com a sala de
almoço dos guardas.)
Madalena: (Em pé e impaciente. Mala da Guess no braço
direito, botas da Louis Vuitton) - Mas já se viu isto? Incompetentes! O meu
marido desaparecido e eu aqui num desespero! Estes governantes… Alguém que me
atenda, por amor de Deus! Estou aqui há 1h30m! Isto é mais lento que a Justiça!
Vocês sabem quem eu sou? Sabem quem é o meu marido?
Manuel:
(Apercebe-se do barulho, levanta-se, olha para a sala de almoço, irritado) - O
que é que é isto? Todos os guardas aí dentro, sem fazer o seu trabalho? Onde
está a honra, o compromisso para com os portugueses, que eu, enquanto vosso
comandante, vos ensinei? O nosso dever é servir a Pátria e, mais importante, a
população de Almada! Eu próprio atendo esta senhora. Deviam ter vergonha!
Guarda:
-Peço desculpa, meu comandante. Não se tornará a repetir.
Manuel:
-Espero que não. (Dirige-se a Madalena,
senta-se na secretária) - Então, pareceu-me, pelo que ouvi, que a senhora
precisa de ajuda.
Madalena:
-Primeiramente, exijo o livro de reclamações. Sabe quem eu sou? Madalena de
Vilhena, os meus treta-treta avós eram nobres, da melhor raça existente. Nem a
perna de presunto de porco preto alentejano é mais importante que eu! Mas,
passando ao assunto, há 6 meses, o meu marido… (Interrompida por Manuel)
Manuel:
-Alto e para o baile! Se a senhora é importante, eu também sou. Eu defendo Portugal
arduamente, dou o meu corpo às balas, ao fogo, e, mais importante, a Almada!
Madalena:
-Tem razão. Peço desculpa, mas fico de tal forma perturbada, que, desculpe a
expressão, fico a tremer das canetas.
Manuel:
-Não se preocupe! Qualquer um ficaria assim, mas continue, por favor! (Dedos no teclado a registar o relatório
do caso).
Madalena:
-Como estava a dizer, há 6 meses o meu marido, que está no exército português,
integrou o contingente militar que tinha como missão apoiar as tropas e as
vítimas da Ucrânia. Eu penso que ele esteja desaparecido, por me ter dado o
“ghost” e não me responder às mensagens.
Manuel:
-Mas, minha senhora, sabe que isso não é suficiente para depreender que ele
esteja desaparecido. Não tem mais provas?
Madalena:
-Ele prometeu que, mal chegasse à Ucrânia, me mandaria uma mensagem, ou, pelo
menos, uma carta, caso não houvesse rede, mas isso nunca chegou a acontecer. Eu
sei que os CTT são lentos, mas já se passaram 6 meses! Além disso, comprei
Tinder premium, e olhe que isso não é nada barato! Estendi o raio até à
Ucrânia, para ver se o desgraçado me estava a enganar com alguma ucraniana. Fui
à bruxa, ao chat.pt, às trends militares do Tik Tok e nada, nem um sinal!
Manuel: -A
senhora saiu-me cá uma detetive! Se não tiver qualquer historial com drogas,
contrato-a já! Estas informações são deveras importantes e relevantes.
Madalena:
-Ainda há outra coisa muito estranha. No outro dia, recebi um pedido de
mensagem, no Insta, de um estranho. Ele mandou-me um link que ia ter às Arábias
ou às Roménias. Quer ver? (Madalena dá o
telemóvel).
Manuel:
-Então e a senhora mandou a música “Quem és tu, miúda?” dos Azeitonas? É também
a música que oiço sempre quando saio em missão.
Madalena:
-Claro que mandei, é a minha música favorita. Depois ele respondeu-me
“Ninguém”, e bloqueou-me!
Manuel: - (Olhou fixamente para a elegante mulher que
parecia mais calma) – Temos muito trabalho pela frente. Manterei contacto
consigo. Caso tenha alguma dúvida, tem aqui o meu cartão. Não hesite em contactar-me.
Madalena: (Hipnotizada pelo brilho do olhar do
comandante) - Muito obrigada! É pena que os homens tão nobres e cavalheiros
como o senhor tendam a desaparecer…
Sónia
Paulo 11ºC Simão Azevedo 11ºC
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